sexta-feira, 22 de julho de 2011

EU SABIA QUE VOCÊS VIRIAM...

Já fiz várias vezes a rota Jacaré-Acanga – Cachimbo. Mas somente em vôo visual diurno. Voar noturno sobre a densa floresta amazônica era muito perigoso. Hoje nem tanto. Mas naquela época, fazer o trajeto de C-47, não era nada agradável...  As distâncias entre as cidades são enormes; e não podíamos contar com o auxílio dos fabulosos GPS. Contávamos somente com o auxílio dos rádios faróis, nem sempre confiáveis, principalmente à noite, quando mais se precisa...

Mas foi num dia de junho de 1967, que o Destacamento de Proteção ao Vôo de Cachimbo, no sul do Pará, sofreu ameaça de invasão por cerca de 100 índios. Os militares da FAB ali destacados pensaram que era um ataque iminente, e solicitaram reforço urgente de Belém, sede da então Primeira Zona Aérea, de onde eram enviados suprimentos materiais “e humanos” para dezenas e dezenas de outros destacamentos, situados na imensa região amazônica.

 Bom. – Mas o que eu queria lhes contar, rapidamente, foi o desencadeamento de uma grande tragédia, que culminou com a morte de 20 pessoas e o resgate de 5 sobreviventes... De Belém partiu um C-47 com uma tropa armada de 23 militares, mais um índio aculturado. Não vou agora descrever as polêmicas que se criaram se o Brigadeiro Comandante da Primeira Zona Aérea deveria ou não ter autorizado a decolagem de Belém para Jacaré, e de lá para Cachimbo, este trecho totalmente em “vôo por instrumentos” noturno, com equipamento de navegação apresentando “panes intermitentes”. Mas, era uma missão considerada “missão de guerra”...

Prevendo problemas, decolaram de Jacaré para Cachimbo “full tanques”, o que dá uma autonomia de umas oito horas. Após o tempo estimado de vôo, não conseguiram avistar, nem conseguiam receber os sinais do rádio farol de Cachimbo. Fizeram o procedimento previsto para o caso,  abrindo para um “Quadrado Crescente”, mas sem nenhum sucesso...  Resolveram então regressar para Jacaré. E não conseguiram também nem avistar, nem receber os sinais do rádio farol de Jacaré. Estavam “perdidos” e “mal pagos”... A tendência para quem se perde, principalmente na Amazônia, é perder-se cada vez mais... E foi o que aconteceu... Aproaram Manaus, na esperança de “se acharem”... Mas nada de Manaus chegar... Quando se está perdido, sente-se um gosto de merda na boca... Com todo “pleonasmo” mesmo... É horrível... Voaram, voaram, voaram e foram cair devido “pane seca” num lugar que o SALVAERO, o serviço de “Busca e Salvamento” da FAB, nunca poderia imaginar. Perto de Tefé. Foi realizada uma das maiores operações de Busca e Salvamento já realizadas no mundo, que perdurou por vários e longos dias... Os cinco sobreviventes contam que os “urubus-reis”, enormes urubus de cabeças vermelhas, depois de gastos todas as munições para espantá-los, comiam as carnes dos que iam morrendo... E quando foram finalmente salvos, eles choravam e gritavam: -- “Nós sabíamos que vocês viriam”...

Nem sempre se pode “voar” e ser feliz ao mesmo tempo...

Coronel Maciel.

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