sexta-feira, 15 de julho de 2011

Ser militar.

Ser militar.



Ontem, revendo minhas velhas cadernetas de vôo, sob os olhares curiosos do meu “inteligente” neto (qual é o neto que não é inteligente?), quando ele me fez uma pergunta que me deixou bastante intrigado; ele tem 12 anos (1957, quando entrei na FAB, na EPCdoAR, eu tinha 16 anos) e está à procura de um caminho, de um rumo na vida, caminho muitas vezes tão difícil de encontrar... “Vô, é bom ser piloto, ser aviador?” -- Como eu faço para ser também da FAB? De repente eu percebi como é sutil, como são agudas certas perguntas das crianças. Ser da FAB; ser militar. Poderia lhe dar uma resposta infantil, ou por demais adulta; poderia lhe dizer que eu “começaria tudo outra vez...” Não gosto de influenciar as pessoas; acho que é o mesmo que querer lhes transmitir nossa própria solitária alma... Talvez ele me ache um avô “super-avô”... Talvez ele ache os aviadores “super-homens”... Como eu gosto muito de astronomia, o meu esporte favorito, estou lhe dando os primeiros vôos duplos pelos espaços sem fim... Conversamos muito; tento lhe explicar que duas coisas na nossa longa (?) vida são paradoxais e muitas vezes frustrantes:- - Uma, conseguir o que se quer; outra, não conseguir...

Ser homem! Ser militar! Ser aviador! As qualidades enumeráveis são inúmeras. E, a maioria delas, perfeitamente aplicáveis às mulheres, às mães principalmente. Porque as forças morais que qualificam realmente homens, grandes mulheres as possuem; e também, reservas morais que grandes mulheres possuem, muitos homens não as têm. Então, um grande homem, uma grande mulher, um grande militar, são dotados de grandes e iguais qualidades. Diferenciam-lhes a força física e, naturalmente, o sexo.

Ser militar é saber enfrentar sereno e responsável os enormes desafios do mundo moderno. É esquecer-se para não esquecer as imensas e perenes responsabilidades para com a família, para com a Pátria, sua grande e maior família...

É enfrentar, às vezes calado, aqueles afeitos a só denunciar os tropeços dos fortes ou as humanas limitações dos homens beneméritos! É estar realmente na arena, na luta, no campo de batalha, o rosto desfigurado pela poeira, pelo suor, pela “graxa”, pelo sangue, pelos grandes ventos, pelas desilusões, pelos amores, pelo cansaço. É saber dedicar-se; é conhecer grandes entusiasmos; é empenhar-se numa causa justa! É nunca perfilar junto de almas timoratas, daqueles que não conhecem vitórias nem derrotas!

Ser homem, ser militar, e não importa se soldado, cabo ou coronel; se do exército, marinha ou aeronáutica, é estar sempre na luta; na luta sempre, sempre e sempre, mesmo errando, falhando e tornando a falhar...

Mas, como explicar tudo isto para o meu “inteligente” neto?



Coronel Maciel.


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