quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um forte no "Inferno Verde".

A floresta Amazônica lá embaixo; aquele imenso mar-verde, com milhões de árvores enormes espalhando sombras para bilhões de insetos e animais silvestres, e dificultando a nossa navegação, pois, muitos rios, riachos, igarapés constantes nas cartas de navegação aérea WAC estavam também encobertos pelas sombras. O que seria de nós, se fossemos obrigados a um pouso forçado naquele verdadeiro inferno verde?
Naqueles tempos, tempos da aviação romântica, aviação de arco e flecha, sem o auxílio do GPS, como era fácil os pilotos se perderem naquela imensidão; mais difícil ainda era se achar depois...
Estávamos indo de Manaus para Forte Príncipe, transportando uma comitiva do Exército. Ao chegarmos, com o general sentado na cadeira do co-piloto, ficamos sobrevoando aquele Forte, construído nos últimos anos do século XVIII; e fiquei imaginando como foi possível trazer as cantarias de Belém, rios acima; os canhões de bronze, as pedras, pois naquelas margens do Rio Guaporé não há pedras; que tarefa titânica; sem paralelo; sem a Comara, a comissão para construção de aeroportos na região amazônica, da FAB; sem os possantes cargueiros Hércules C-130; enfrentando as febres tropicais, as arremetidas dos castelhanos, nada impediu que brasileiros e portugueses, de mãos juntas, levassem a cabo este extraordinário empreendimento incrível, da história da nossa colonização...
Pousamos e fomos recebidos pelo Tenente Comandante do Pelotão. No almoço, uma grande surpresa: -- Como o Tenente havia conseguido aquelas pedras, que serviam de piso, num improvisado "restaurante" nas margens do rio Guaporé?
No almoço, fomos servidos com uma suculenta tartarugada... Foi quando o General começou a ficar vermelho, com justificado assombro, quando o Tenente informou que havia tirado as pedras "daquele Forte, ali abandonado"... E estas tartarugas? Não sabe que está proibida a pesca? Foi aquele silêncio geral e desconfortável... Tentando aliviar a situação do embaraçado Tenente, eu disse ao general que, se nós não pegássemos as tartarugas, os Bolivianos, do outro lado do rio, iriam se fartar, sozinhos...:- - Explica, mas não justifica... Vou levar este fato ao conhecimento do general Figueiredo, meu colega de turma, meu amigo particular, e haveremos de restaurar este Forte; aliás, ele é o único quadro, pintado a óleo, que existe no meu Gabinete...: -- Uma ótima idéia, General, disse eu tentando aliviar as tensões, mas meio desconfiado e temeroso de levar também uma boa “mijada”...
No dia seguinte decolamos para visitar outros Pelotões. Durante o vôo fiquei imaginando como é dura a vida naqueles longínquos Pelotões de Fronteiras...

Coronel Maciel.

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