terça-feira, 25 de outubro de 2011

PARA NÃO DIZEREM QUE NÃO SEI FALAR TAMBÉM DE FLORES...

Vez em quando pego do meu velho, mas sempre afinado violão; ontem me lembrei do Geraldo Vandré... Era na época da “ditadura”, quando nossos generais eram taxados de assassinos... Coitados deles: hoje ninguém, nenhum dos seus filhos e herdeiros, tem coragem de defendê-los com a mesma força com que eles nos defenderam.  Os “mais antigos” ainda devem se lembrar daquela canção do Vandré, canção que era capaz de levar as massas, de estudantes também, aos delírios:Há soldados armado, amados ou não/ quase todos perdidos, de armas na mão/ nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição, de morrer pela pátria e viver sem razão...”. Hoje, com surpreendente coragem, Vandré denuncia a manipulação de que foi vítima pelos que hoje têm o poder no Brasil. Defende as Forças Armadas e até compôs uma linda canção em louvor à nossa Força Aérea. “Fabiana”.

O sentimento de culpa, meu caro Vandré, não é nenhuma desonra, nem degeneração, nem humilhação, mas sim a expressão mais pura e inviolável da dignidade humana; de uma consciência superior. Só homens assim, de verdadeiro caráter, admitem suas culpas, e são capazes, como o fez Graciliano Ramos, numa das frases mais apaixonadas e admiráveis da nossa literatura: -- A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi dessa vida agreste, que me deu essa alma agreste...

Mas hoje também queria lhes falar de algo que guardo com muito carinho e bem dentro do meu peito; o meu coração... Meu coração vem batendo forte há mais de setenta anos; exatamente há setenta ponto uno... – Ele é meu grande amigo, porque eu nunca judiei com ele... -- Judiei, e muito, com meu fígado; este sim tem severas razões de se vingar dos quantos sacrifícios a que foi submetido. Aos ataques de nem sei quantas doses de uísque, de vinho, licor, cerveja, cachaça... – O meu pulmão também; este meu grande herói também já foi muito judiado com cigarros, charutos, apesar das tréguas que de há muito eu já lhe dei. -- E minha cabeça? Ah! -- minha cabeça! – Essa bem que poderia ter-se rebelado com o seu cérebro, sempre pronto a maquinar certas astúcias muito pouco recomendáveis... (Em tuas orações, Ninfas, recordem-se dos meus pecados...)

Mas, porém, contudo, todavia, o meu velho coração nunca fez mal a ninguém. -- Nunca! É bem verdade que muitas vezes foi fraco, mole, aflito...  Às vezes chateado, outras vezes tímido, mas sempre disposto a compreender aqueles que não lhe querem bem... Meu coração é o meu maior conselheiro. Quantas e quantas vezes ele já me disse: -- “Corona”, conheço muito bem todos os seus problemas! -- Você não é mais aquele tenente novinho que vivia dando rasantes por aí; assustando namoradas... Mais cedo do que pensava você trocou seu macacão de vôo, por esse seu velho calção de banho... Veja como seu rosto está diferente... Veja seus gostos, seus planos; seus “planos de vôo”... Seus ideais...  Tudo, tudo, tudo muito diferente... Mas quero ser seu amigo para todo o sempre; vou ficar com você até o pouso final; até o corte dos motores... Não me importam os problemas que você tenha... Tudo será muito fácil e melhor se você e eu andarmos sempre juntos...

Coronel Maciel.   




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