sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

OS "ROMÂNTICOS DO AR".

Eu, o Capitão--Aviador Alcântara e o Capitão--Capelão Bianchi, da Base Aérea de Salvador, fazíamos parte da tripulação cumprindo missão do ETA-2 Recife, no sempre fiel, corajoso e competente DAKOTA C-47...


Chegamos à bela cidade de Ilhéus para o pernoite, bem em cima da hora do término das aulas de um colégio só de "meninas", que ficava bem próximo ao pequeno aeroporto. Antes do pouso fizemos algumas lindas passagens baixas e “bem baixas” como que para avisar da nossa chegada... Pousamos; o aeroporto fervilhava de “normalistas lindas”, naquela algazarra típica de adolescentes... Alegria geral e descontraída.


Combinei antes de sairmos do avião que o Bianchi, descendente de italiano e figura “muito bem apessoado” -- deixaria de ser Capelão, para ser “Capitão--Aviador”... O Alcântara (grande piloto de C-47, ótimo amigo; infelizmente faleceu logo depois, num trágico acidente com um Xavante, em Natal) passaria a ser “Capitão-Capelão”... O Alcântara assumiu perfeitamente suas "novas funções" (trocou a asinha pela cruz no macacão de voo). E rezava e benzia e benzia e rezava, fazendo o sinal da cruz na testa das meninas; um perfeito Cardeal... Mas tudo dentro do maior respeito, tudo na maior brincadeira; tudo na maior gozação.


Logo chegava ao aeroporto um simpático senhor dirigindo seu enorme carrão vermelho, querendo puxar conversa conosco, dizendo-se dono de um grande comércio de cacau, e que era muito rico e tal e coisa e coisa e tal...  Ficou acertado que ele viria nos buscar à noite para uma boa “moqueca de peixe”, camarão na brasa, etc, e tal, e logo em seguida para “uma festinha” que iria nos oferecer, numa das suas belas mansões em Ilhéus. -- Dizia-nos que sua maior frustação na vida era não ter sido aviador da FAB e que sua maior ambição era ainda poder pilotar um pequeno avião que iria comprar... -- E eu, admirado, lhe dizia que a minha maior ambição era um dia chegar a ser rico como ele... -- Ser rico e nada mais, eu lhe dizia sorrindo... -- Eu estava mesmo era preparando uma “grande jogada”, vislumbrando um bom programa para alegrar nosso pernoite...


Não deu outra; numa linda noite estrelada lá estávamos nós, alegres e satisfeitos numa espécie de "Casa de Irene", bem em frente ao mar, comendo, dançando e bebendo do melhor, quando o Bianchi (ótima pessoa, um grande amigo; um santo Capelão...) me perguntou:- - E agora, Major Maciel, eu sou o quê, aqui neste verdadeiro céu? – Qual o meu verdadeiro papel nesta história toda? -- Eu lhe respondi sério, mas em tom de gozação:- - Ora, Bianchi, você é nosso santo Capelão... -- Faça o que mandar seu manso, doce e humilde coração...


Não sei realmente o que aconteceu... Só sei dizer que de repente o Bianchi sumiu... -- Dizem que “ensandeceu”, como ensandeceu o “Poleá” do Machado de Assis...  Eu e o Alcântara, verdadeiros “românticos do ar”, pegamos do manche e voamos rumo às estrelas... rsrsr


Coronel Maciel.



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