domingo, 14 de outubro de 2012

Círio de Belém.


Estávamos no auge da “Ditadura”. E me vejo cumprindo uma missão transportando o ministro das comunicações Higino Corsetti numa longa viagem pelo interior do norte/nordeste, naquele grande esforço que os “ditadores” faziam para melhorar as comunicações por este imenso Brasil, Brasil que não “falava” com ninguém... Nem o norte com o sul nem o este com oeste... Acompanhava o ministro sua esposa, pois nos muitos municípios onde eram instaladas as torres e linhas de transmissões dos sinais, os prefeitos também se faziam acompanhar das suas respectivas...


Num dos nossos pernoites, foi em Fortaleza, fiquei sabendo pelo ajudante de ordem do ministro que o casal completaria 25 anos de casados, no dia seguinte. A missão era feita no popular C-47, vulgo Dakota, equipado com “confortáveis” poltronas, e o meu “copila” era o meu grande amigo tenente Alcântara. Bolamos então um “audacioso” plano que, se desse certo, nos renderia bons frutos...


Mandei comprar 25 rosas vermelhas “gigantes” e fizemos um cuidadoso “briefing” antes da decolagem para Teresina. O taifeiro de bordo, também um ótimo corneteiro, era um “criolão” (por favor, dona Dilma, não mande me prender! Criolão, eu digo muito carinhosamente, sem conotações pejorativas...) muito aprumado nos seus quase dois metros de altura e vestido todo de branco... Era muito orgulhoso da sua nobre profissão. Ele ficaria segurando as rosas; eu ofereceria as “vermelhonas” à esposa do ministro, e o Alcântara faria o discurso..


Voávamos bem alto, no topo das nuvens, evitando fortes turbulências.  O piloto automático ligado (que perigo...). Acordamos o casal e, muito educadamente, ofereci à senhora as 25 lindas rosas vermelhas (quase que ela chorava de tanta surpresa e emoção...).  O Alcântara então “abriu o verbo”, contumaz que era “em faltas dessa natureza”... Pois muito bem; dali em diante demos adeus aos pernoites nos alojamentos dos nossos pobres Destacamentos, passando a pernoitar nos melhores hotéis, comendo do bom e bebendo do melhor... Um dos pernoites foi em Belém, exatamente no dia do Círio, com o casal apreciando  procissão -- vagarosa, parecendo imensa cobra humana se arrastando pelo chão --  da sacada do hotel na Avenida Presidente Vargas.


E durante vários anos, por ocasião das festas natalinas, eu recebia uma caixa de vinhos de uma pequena fábrica que o ministro possuía, lá pras  bandas dos pampas gaúchos. E um cartão de boas festas assinado pelo simpático casal.


Era nos bons tempos da “ditadura”...


Coronel Maciel.