sábado, 30 de março de 2013

"Manifesto" dos Presidentes dos Clubes Militares.


O atual Brigadeiro Rui Moreira Lima, hoje reformado, quando coronel, comandou a Base Aérea de Santa Cruz, até o dia que ele considera como o “Golpe de 64”. Ora -- como todo militar disciplinado deve ser -- ele tinha por obrigação ser também leal ao Presidente da República, na época o João Goulart.  Como leais e disciplinados devem ser os nossos atuais comandantes para com dona Dilma... Quando um comandante achar que não deve mais ser leal ao presidente, ou à “presidenta”, ele deve “pedir as contas” e ir cantar em outro terreiro...

Moreira Lima sabia que muitos dos “pilotos de caça”, a grande maioria, eram favoráveis ao “Golpe”... Quando o “Comandante do Grupo de Caça”, obedecendo ordens do “Comandante da Base”, reuniu seus pilotos, colocando-os de prontidão e mandando armar os aviões, tenho a certeza absoluta que sua intenção não era atacar as tropas revolucionárias, mas sim qualquer reação a elas... 

-- “Me puseram nesse fogo”. -- Mas tive a felicidade de ver esses rapazes se manterem disciplinados a mim... Muitos desses ”rapazes” a quem o Rui se refere são -- e tenho orgulho de dizer -- meus colegas de turma, Aspirantes-Aviadores da turma de 62, formados no já lendário “Campo dos Afonsos”.

Moreira Lima tinha pleno conhecimento da revolução que se aproximava. Sabia que Jango começou a cair no “Comício da Central”, quando ele o foi assistir à paisana, como simples cidadão, tendo ficado preocupado, para não dizer apavorado, com os termos agressivos dos discursos, discursos que assustavam a classe média conservadora brasileira. Uma semana antes do “31 de março”, diz o Rui,  a sua Base sofreu ameaças de invasão de oficiais de outras unidades. -- “Eles estavam doidos para me criar problemas”... – Os chefes, como o Castello Branco e toda sua gente, na realidade não faziam nada; eram uns pândegos... Falavam muito e só faziam fofocas... – Quem fez mesmo a revolução foi o Mourão Filho. Os oficiais golpistas de Aeronáutica queriam tomar a minha Base porque era a única que podia reagir, pois era a que tinha realmente a força; a força dos nossos aviões. – Assumi a defesa e mandei prender todo mundo...

Moreira Lima reconhece que havia muita indisciplina nas Forças Armadas. E que por falta de comando aqueles sargentos do “Levante de Brasília” começavam a ocupar espaços...

Eu particularmente sempre fui contra politicagem nos quartéis. Moreira Lima promovia palestras políticas na sua Base, levando gentes como Osvaldo Lima Filho, João Pinheiro Neto, para falar sobre reforma agrária, um tema quente e muito solicitado na época. Convidava dom Hélder Câmara, o famoso Bispo Vermelho, para falar sobre Jesus Cristo, sobre Cristianismo, mas com uma visão socialista (ou comunista?) pura... – Mas nunca houve deslizes, a não ser a prisão de dois oficiais que achavam que aquilo não era certo, e que eu não devia incentivar conferências políticas dentro da Base... – Enquadrei os dois com oito dias de prisão para cada um... Eles não reclamaram, nem recorreram; eram dois garotos que resolveram me enfrentar, e se deram mal... A questão da hierarquia é fundamental, nos diz o Rui, que respeito pela sua idade e pelas suas muitas missões de guerra enfrentando de peito aberto as poderosas artilharias antiaéreas dos alemães nos céus da Itália.

PS:- - O Brigadeiro Rui Moreira Lima exerce até hoje (em minha opinião) grande influência nos oficiais “caçadores”, principalmente naqueles mais “antigos”.

PS2:- - Em minha opinião, o atual “Manifesto” dos presidentes dos Clubes Militares não reflete o desencanto da maioria dos nossos militares, nem a da classe mais conservadora da nossa sociedade.
Coronel Maciel.