sábado, 6 de julho de 2013

Você já viajou nos jatinhos da FAB?


Foi a pergunta que eu fiz hoje ao meu velhíssimo barbeiro.  -- Eu? – Quem sou eu, velho corona! -- Eu nunca andei, nem nunca cheguei nem perto de nenhum desses aviões, me diz ele com a sua afiada navalha na mão! Tenho medo só em pensar de andar de avião.

Depois de anos e anos cortando meus eternos cabelos brancos, ele agora deixou crescer certas “intimidades” comigo: -- me chama de “velho corona”, e eu, de “fígaro velho”; não o lá de “Sevilha”, mas este aqui de Natal.

 Já cortastes cabelos de alguém da família Alves, pergunto-lhe brincando. -- Não; nunca tive essa felicidade. Conheci o velho Aluísio Alves, nos velhos tempos quando dos seus comícios nas campanhas para governador. Aluísio Alves, aquele que foi cassado “por corrupção”, na época que “você” mandava, lembra? – Aluísio, pai do Henrique, primo do Garibaldi, esses que agora estão aí no topo da lista dos mais bem sucedidos na vida, e armando essas grandes confusões, passeando pra lá e pra cá, sempre numa boa nos teus lindos aviões! -- Meus não! -- Nossos aviões! -- Meus, teus, nossos aviões!

 Eu também, barbeiro velho, nunca tive a felicidade de viajar, nem muito menos pilotar esses aviões tão lindos, limpos, bem tratados e muito bem equipados aviões do GTE, Grupo de Transporte da FAB especializado no transporte de “altíssimas autoridades”.   Pilotei muito os meus velhos aviões Dakotas, os bravos, os “bravíssimos” C-47, que só transportava índios, soldados para os pelotões de fronteiras, padres, freiras, freirinhas até bispos, pelas florestas amazônicas, esses mesmos padres e  bispos que vivem  longe, muito longe, dos palácios do Vaticano... -- Lá vem você falando mal dos pobres padres e bispos! - -- Olha que o papa vem aí, e ele vai te castigar! -- diz ele acompanhado de sonoríssima gargalhada.

Conversa vai, conversa vem, tentei lhe explicar da maneira mais simples possível como acontecem essas grandes bandalheiras nos jatinhos da FAB: -- É fácil, muito fácil, passear nos jatinhos da FAB; basta que essas autoridades tipo -- “sabe com quem está falando” -- solicitar algum deles, dizendo que vai viajar em “missão oficial”; por exemplo: assistir a casamentos de compadres e comadres; partidas de futebol; passeios à ilha  Cubana ; à ilha de Fernão de Noronha – mas sempre alegando que vai em “missão oficial”, sempre a serviço do governo,   mesmo levando a bordo noivas, noivinhas, “namorados”, namoradinhas, amantes, coisinhas assim. E fica fácil, muito fácil, quando descoberta a "sacanagem", dizer que vai “ressarcir” a nação com míseros cruzados, quando na realidade deveria ser-lhes cobrado o mesmo valor que seriam cobrados no caso de fretamento de aviões do mesmo tipo, em companhias de “Taxi Aéreo”, o equivalente a pouco mais ou menos vinte e cinco mil cruzados, por hora de voo!

“Ah que saudades que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais”...

Coronel Maciel.