sexta-feira, 7 de março de 2014

O famoso Beech-Mata-Sete.


Quem dos aqui mais antigos não voou o popular Beechcraft C-45? Aquele lindo avião americano, bimotor, monoplano de asa baixa, de construção metálica, para cinco passageiros e dois pilotos?  Seu projeto era bem convencional, exceto pela “deriva dupla”. Foi fabricado por mais de trinta anos, entre 1937 e 1970, atingindo mais de 9.000 unidades. Na FAB, por razões óbvias, ficou conhecido como “Beech Mata Sete”.

Eu e o Tomé Ribeiro Neto éramos dois orgulhosos tenentes- aviadores! Decolamos de Barbacena (BQ) para Congonhas. Após alguns minutos de voo, “monomotor”. Regressamos. Era um dia de sábado, e a missão tinha caráter “improrrogável”. Deveríamos transportar dois professores vindos da França, para uma conferência na Escola, para os alunos e vários convidados especiais. O próprio Brigadeiro seria tradutor. (O Camarão, além de Francês e outras línguas, falava e escrevia fluentemente o Grego).

Foi quando ele  me chamou e bem baixinho me disse assim:- --“Fura – Bolo”, era assim que ele carinhosamente me chamava, pois eu, modéstia à parte rsr, cumpria qualquer missão. “Bombardeio qualquer tempo”. -- Fura-Bolo, pegue o Regente e me traga eles aqui:- - Mensagem à Garcia, Brigadeiro? Ele me olhou, sorriu e confirmou com um sim, com aquela sua cabeça bem branquinha, como hoje é a minha.

Congonhas estava naquele “abre, não abre” para voo visual; operava "instrumentos".  O Regente, vocês conhecem, né?  Pois bem: Decolei e pousei em Congonhas, para surpresa e incredulidade geral da nação! Apareceu logo um oficial muito mais antigo que eu para me dizer o óbvio:- - que eu havia cometido uma grave infração e que por ordem superior eu estava impedido de decolar. Nestas alturas, com os franceses já a bordo, fiquei na dúvida até onde eu poderia avançar. E avancei, colocando no plano de voo “Operação Militar”.

Era o ano de 1967. A Revolução voava alto, distribuindo alegrias pelo Brasil inteiro!

Chegamos em Barbacena bem em cima da hora para o início da tal conferência, para alegria do Camarão. -- Missão cumprida, Brigadeiro! Mas... vem "bronca" por aí. Contei-lhe tudo. Ele sorrindo me despreocupou.

Nesse ínterim, eu fui transferido para Natal; e foi lá que eu recebi um "baita" de um "deveis informar". O Coronel Comandante da Base não aceitou minhas risíveis justificativas:- -"Teje preso"...

Eu estava escalado para uma missão com destino ao Rio, no dia seguinte. O Coronel, não autorizou; eu estava preso! E só depois muita conversa, ponderações, etecetera e coisa e tal  deixou-me ir, autorizando também um pouso rápido em BQ. Em lá chegando, após aquele famoso aperto de mão tipo “quebra dedos” e após me ouvir, disse sorrindo:- - Pode seguir tranquilo, Fura Bolo. Deixa comigo.

Chegando em Natal, o Coronel me olhou assim meio sem jeito, me  dizendo que estava “tudo resolvido”.

Grande Brigadeiro Camarão. Nunca me deixaria na mão.

... "Quantas saudades eu tenho da aurora da minha vida"...

 
Coronel Maciel.

2 comentários:

Geraldo Alves Sant'Ana disse...

Olá Coronel
Meu nome é Geraldo Alves Sant'Ana Sou de Barbacena e servi na ECAR (Alves 71/59) como S2 e S1 de 71 a 73
Lembro bem do Brigadeiro Camarão, e se o Tomé que o sr se refere for o Ten Tomé que infelizmente faleceu no acidente com um T6 nos terrenos da Escola Agrícola recordo bem dele até como jogador do Olypinc Club. Parabéns pelo Blog.

Coronel Maciel. disse...

Muito obrigado, Geraldo Alves! É esse mesmo o nosso saudoso Tenente Tomé!