domingo, 20 de abril de 2014

Por obra e graça do Espírito Santo.



O meu barbeiro preferido é um profundo conhecedor da sua inseparável Bíblia Sagrada.  Dia destes, só pra chatear, lhe fiz esta sagrada e um tanto quanto capciosa pergunta:- - Me diz uma coisa:- - Quem é mesmo o pai de Jesus? -- Mas você só me faz perguntas de prova, coronel!  E cada uma! – Todo mundo sabe que Maria ficou esperando o nosso menino Deus por obra e graça do Espirito Santo, meu caro coronel tão cheio de pecados! -- E como foi que o nosso bom José reagiu quando ficou sabendo que sua noiva estava “esperando neném”, se ele nunca havia “dormido” com ela? – Ah, deixa isso pra lá.  São coisas que só Deus explica. Ainda mais pra você, que vive dizendo que “graças a Deus é ateu”.

Gosto de conversar com o meu barbeiro, mesmo reconhecendo que às vezes abuso da sua ingenuidade. Mas de qualquer maneira tenho que reconhecer que já aprendi muita coisa com ele; principalmente coisas sobre sexo! Aprendi que “sexo exagerado” é igual a esses vícios que afligem a humanidade. Cocaína, crack, cachaça. Aprendi que o sexo correto é o sexo “caseiro”; aquele sexo comportado sem muita “safadeza”, como ele mesmo diz. O sexo exagerado vicia o cidadão, e leva a esses tarados que não podem ver mulher, -- me diz ele e fica me espiando, com um olhar cheio de censura. -- Quem é o seu Deus afinal, pergunta ele, já quase perdendo a “esportiva”. – Ora, respondo, -- O meu Deus é o mesmo Deus de Baruch Spinoza. – Quem? – Quem é esse santo pecador que eu nunca ouvi falar na minha vida?

Tento explicar que é um bom tipo de “Deus”; um Deus que está muito mais preocupado em manter em perfeito equilíbrio as suas enormes galáxias! -- Galáxias? – Sim, galáxias. Ou você não sabe o que são galáxias? Esse Deus que você nunca ouviu falar, meu caro barbeiro, é ótimo tipo de Deus! -- Um Deus que não está “nem aí” pela sorte e ações dos homens aqui na terra, nem por outros milhões de habitantes de outros milhões planetas espalhados pelo universo se fim! Um Deus que me convida a desfrutar os prazeres da vida; que me convida a me divertir e desfrutar tudo o que ele criou para mim, para nós, e para você também, barbeiro! -- Mas esse Deus não existe, coronel! -- Pelo menos não consta na minha Bíblia Tão Sagrada, me diz ele, preocupadíssimo com minhas heresias.

Realmente. Como é difícil explicar esse Deus, para mim o verdadeiro Deus; o Deus de Baruch Spinoza. O mesmo Deus de Albert Einstein!

Coronel Maciel.

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