domingo, 12 de outubro de 2014

Círio de Belém, no auge da "Ditadura".

Estávamos no auge da “Ditadura”. Naqueles bons tempos quando o Brasil funcionava! E funcionava bonito! Época das grandes realizações:- - Ponte Rio-Niterói. Grandes hidroelétricas. Grandes aeroportos. Embraer e tantas e tantas outras grandes realizações!

Época em que – como bem dizia aquele ousado locutor de uma rádio da minha “Paraíba Pequenina e Boa”:- - Você podia dormir na rua, de bunda pra cima, ensaboado, com relógio de ouro no pulso, que ninguém “encostava” em você! – Hoje, não! -- Hoje você dorme trancado em casa, e mesmo assim arrombam tua casa, te roubam tudo e ainda estupram tua mulher e filhas.

Mas, como eu queria lhes dizer, hoje eu me vejo -- embora tão saudoso e deitado em minha rede – em pleno voo transportando o Ministro das Comunicações Higino Corsetti numa longa viagem pelo interior do norte/nordeste, naquele grande esforço que os “ditadores” faziam para melhorar as comunicações por este imenso Brasil, um Brasil que não “falava” com ninguém. Nem o norte com o sul nem o este com oeste. Acompanhava o ministro sua esposa, pois nos muitos municípios onde eram instaladas as torres e linhas de transmissões dos sinais, os prefeitos também se faziam acompanhar das suas respectivas.

Num dos nossos pernoites, foi em Fortaleza, fiquei sabendo pelo ajudante de ordem do ministro que o casal completaria 25 anos de casados, no dia seguinte. A missão era feita no popular C-47, vulgo Dakota, equipado com “confortáveis” poltronas, e o meu “copila” era o meu grande amigo tenente Alcântara. Bolamos então um “audacioso” plano que, se desse certo, nos renderia bons frutos...

Mandei comprar 25 rosas vermelhas “gigantes” e fizemos um cuidadoso “briefing” antes da decolagem para Teresina. O taifeiro de bordo, também um ótimo corneteiro, era um enorme “criolão”! -- Criolão, eu digo muito carinhosamente, sem conotações pejorativas, muito aprumado nos seus quase dois metros de altura e vestido todo de branco.  Orgulhoso da sua nobre profissão. Ele ficaria segurando as rosas; eu ofereceria as “vermelhonas” à esposa do ministro, e o Alcântara faria o discurso.

Voávamos bem alto, no topo das nuvens, evitando as fortes turbulências.  O piloto automático ligado. Acordamos o casal e, muito educadamente, ofereci à senhora as 25 lindas rosas vermelhas (quase que ela chora de tanta surpresa e emoção...).  O Alcântara então “abriu o verbo”, contumaz que era “em faltas dessa natureza”. Pois muito bem: dali em diante demos adeus aos pernoites nos alojamentos dos nossos pobres Destacamentos, passando a pernoitar nos melhores hotéis, comendo do bom e bebendo do melhor. Um dos pernoites foi em Belém, exatamente no dia do Círio, um dia como hoje, com o casal apreciando a enorme procissão -- vagarosa, parecendo imensa cobra humana se arrastando pelo chão.

 Era nos bons tempos da “ditadura”

Coronel Maciel.



 



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