sábado, 2 de dezembro de 2017

Pelotões de Fronteira.

Pelotões de Fronteira!
A floresta lá embaixo; imensa; verde; milhões e milhões de árvores enormes espalhando sombras para bilhões de insetos e animais silvestres, sombras que dificultavam a nossa navegação, pois, rios, riachos, igarapés constantes nas cartas “WAC” de navegação aérea estavam também encobertos pelas sombras e pelos abraços das árvores. Naqueles tempos não havia nem sombras de “GPS”! Estávamos indo de Manaus para Forte Príncipe da Beira; entre os passageiros um Tenente, que me pareceu recém-formado da AMAN, de tão vibrador! Ela, sua esposa, uma menina, com a pele ainda bronzeado do “Sol de Ipanema”. Ele ia assumir o “Comando do Pelotão”. Lembro-me tão bem quando a esposa substituída, recepcionou, os olhos ainda remelentos do assédio de tantos mosquitinhos, dizia, rindo, alegre, brincando: -- Minha filha: -- Aqui não tem nem Coca-Cola!
Outra. Transportávamos uma comitiva do Exército. Ao chegarmos, com o General, sentado na cadeira do copiloto, ficamos sobrevoando aquele Forte, construído nos últimos anos do século XVIII; e fiquei imaginando como foi possível trazer as Cantarias de Belém, rios acima; os canhões de bronze, as pedras, pois naquelas margens do Rio Guaporé não há pedras; que tarefa titânica; sem paralelo; sem a Comara, a Comissão para Construção de Aeroportos na Região Amazônica; sem os nossos  Hércules C-130; enfrentando tantas febres equatoriais; enfrentando as arremetidas dos castelhanos; porém nada conseguiu impedir que brasileiros e portugueses, de mãos dadas, levassem a cabo este incrível empreendimento da história da nossa colonização.
Pousamos e fomos recebidos pelo Tenente Comandante do Pelotão. Não era o mesmo “Tenente”. No almoço, uma grande surpresa: -- Como haviam conseguido aquelas pedras? -- Pedras que serviam de piso, num improvisado "restaurante" nas margens do Guaporé. No almoço, fomos servidos com uma suculenta tartarugada. Foi quando o General começou a ficar vermelho de raiva, quando o Tenente, coitado, informou assim meio sem jeito, que havia tirado aquelas pedras "Daquele Forte, ali abandonado". -- E estas tartarugas? -- Não sabe que está proibida a pesca? Foi aquele silêncio geral; desconfortável. Tentando aliviar a situação do embaraçado Tenente, falei ao general que, se nós não pegássemos as tartarugas, os Bolivianos, do outro lado do rio, iriam se fartar: - - Explica, mas não justifica. -- Vou levar este caso ao conhecimento do “Figueiredo”, meu colega de turma, meu amigo particular, e haveremos de restaurar este Forte; aliás, é o único quadro, pintado a óleo, que guarda o meu Gabinete: -- Uma ótima ideia, General, disse eu, tentando contornar o “CB”, mas meio desconfiado de levar também uma “mijada”.

No dia seguinte decolamos para visitar outros Pelotões de Fronteiras. Durante o voo fiquei imaginando como é dura a vida naqueles tão longínquos Pelotões de Fronteiras, onde não tem nem Coca-Cola...  
Coronel Maciel.

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